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quinta-feira, julho 15, 2004

saído diretamente do jarro
 

03:10 HPJ (horário padrão do jarro):

Dia 11 de julho acabou o quinto HOPE - Hackers on Planet Earth, um evento anual que é para o DEFCON o que o Sinn Fein é para o IRA: o braço político em contraposto ao braço armado. Na HOPE são discutidos os impactos da cultura hacker no mundo e vice-versa, uma visão pé-no-chão da responsabilidade social de ser um hacker num mundo onde a tecnologia e a informação estão gradualmente se tornando as novas moedas internacionais e os perigos que legislações irresponsáveis criam todos os dias, limitando as liberdades individuais e o direito (ou dever) de "ser hacker". Todos os hackers importantes do mundo, tanto black- quanto white-hats, deram suas contribuições à discussão, de Steve Wozniak a Kevin Mitnick. Mas um dos nomes na extensa lista de conferencistas me saltou aos olhos: John T. Draper, ou Captain Crunch, uma espécie de herói mundial (ou papa, se você se considera religioso) da comunidade hacker.
O velho Cap'n Crunch foi um hacker quando não havia hackers, nem mesmo redes de computadores. Ele foi, junto com um grupo de 13 pessoas, o primeiro phone freak, ou phreaker, um hacker de telefonia.
Tudo começou em 1969. John estudava engenharia e trabalhava para a National Semiconductors. Também gostava de modificar rádios. Um dia um garoto cego chamado Dennie telefonou para Draper e puxou conversa sobre seus transmissores de rádio piratas, o que ganhou seu interesse. Então, mudou o assunto para telefones. No princípio Draper achou que telefones não tinham graça, mas Dennie passou-lhe alguns números especiais e John logo enxergou o potencial da brincadeira. John foi visitar Dennie e, junto com outros amigos cegos, fez uma ligação gratuita. Primeiro eles ligaram para um número 0800 e então um garoto chamado Jimmy fez alguns acordes com um sintetizador na frente do microfone. Um desses acordes era o de 2600 Hz, o tom de linha livre, som que podia ser facilmente obtido soprando um apito que vinha de brinde nas caixas de cereal Captain Crunch. A linha foi liberada e a ligação foi feita, de graça. Draper, Dennie e Jimmy discutiram a criação de um aparelho que gerasse aqueles tons sem a nescessidade de um sintetizador e Draper, como bom estudante de engenharia, ao chegar em casa criou a primeira blue-box.
John, Jimmy, Dennie e outros se encontravam no número 604-2111, um tronco vago onde várias pessoas podiam conversar ao mesmo tempo. John deixava sua linha aberta no 604-2111 ligada a um aparelho de som para ouvir as conversas o dia inteiro e toda vez que fazia uma nova descoberta enviava os dados para seus colegas explorarem juntos. Logo uma elite underground nascia, e com ela apelidos como Martin Freeman (uma referência a Multi-Frequencer, o nome "oficial" de uma blue-box) e Midnight Skulker. Mas John ainda era John. Então alguém sugeriu que ele usasse o apelido Captain Crunch, em referência ao tom de 2600 Hz, e surgia um dos mais famosos pseudônimos hacker de todos os tempos.
Os 13 phreakers originais sabiam que não seriam os únicos para sempre, mas não imaginavam como aconteceria a expansão. Um dia um rapaz foi preso por fabricar blue-boxes para a máfia. Foi descoberto pois os mafiosos não eram cuidadosos com os números que usavam para fazer ligações e deixavam muitos rastros.
Em retaliação por sua prisão o indivíduo contactou o reporter Ron Rosenbaum e descreveu tudo que ele sabia (bem menos que Draper e seus amigos). Em outubro de 1971 todo hobbista leitor da revista Esquire sabia montar uma blue-box.
Steve Wozniak, que conhecera Draper em um dos jantares que mais tarde se tornariam a base do Home-Brew Computer Club, ligou para John e pediu explicações de como montar a blue-box. Draper ensinou, muito a contra-gosto. Woz usou a sua primeira blue-box para incomodar o Papa (sim, o próprio) e depois passou a vendê-las por $150, dinheiro que ele usou para financiar a construção de seu primeiro computador em parceria com Steve Jobs, o Apple I. Infelizmente, os clientes de Woz não eram muito espertos e muitos foram presos por suas falta de cuidado.
Muitas outras prisões se seguiriam. Rosenbaum entrevistou muita gente que sabia das blue-boxes, inclusive os garotos cegos. Todos os nomes citados por Rosenbaum acabaram em um processo das companhias telefônicas e como consequência Draper acabou sendo preso em maio de 1972 e solto em seguida.
Mas o FBI queria mais. Em 1974 eles pagaram um rapaz chamado Adam Bauman, um bullshit-artist (o que hoje nós conhecemos como hacker social, alguém capaz de convencer as pessoas a fornecer informações que deveriam ser segredo, como Kevin Mitnick) para incriminar Draper e outras pessoas conseguindo evidência material do uso de blue-boxes. Com uma fita gravada por grampo telefônico de uma ligação feita por Adam onde aparece a voz de John o FBI conseguiu novamente prender Draper.
Na prisão de segurança mínima de Lompoc Draper foi obrigado pelos outros presos a ensinar todos os seus truques. Nascia, do medo que John sentia daqueles criminosos de verdade, uma universidade hacker dentro dos muros de uma prisão federal. Também durante o período em que Draper esteve preso ele perdeu o período mais mágico da revolução dos computadores pessoais, que incluiu desde o lançamento do Altair 880 (o primeiro PC e também o primeiro computador a rodar um sistema escrito por Bill Gates) até o lançamento comercial do Apple I. Mas isso não o impediu de, através de uma licensa especial para trabalhar durante o dia e só dormir na prisão, dar sua contribuição à computação pessoal, criando o EasyWriter, o primeiro editor de texto para Apple II e IBM PC.
Desde 1999 Draper é o Chief Technology Officer da ShopIP, a produtora do CrunchBox, um sistema de segurança, filtragem e detecção de intrusos baseado em OpenBSD.

"I'd dare to say, it's next to uncrackable"
Steve Wozniak, sobre o CrunchBox

Escrito pelo Unknown

Comments:

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Jimmy Rulez :P

Po... o Draper eh um cara esperto...
Deu aula de computaçao pra nao virar a mulherzinha da cela...

(Olhando a lista dos Speakers da pra rir mto com alguns nomes, vc notou?)

 

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